terça-feira, 12 de agosto de 2008

Queridos Amigos,
Sinto ter deixado meus "inúmeros" fãs na mão. Andei afastada das letras, o que me deixou muito triste. Minha vida deu uma reviravolta, o que, às vezes, é bom para driblar a monotonia. No meu caso, já que nunca tive uma vida monótona, serviu para provar que o caos existe. Não dá para contar tudo que passei nos últimos tempos. Daria um livro. Enfim, sobrevivi e ainda estou lutando. E hoje, véspera de uma reunião literária a qual não posso faltar, fiz um pequeno texto com um certo medo de ter perdido a forma. A Bia entrou e saiu diversas vezes do meu escritório para mostrar os brinquedos que ela estava separando para levar para a casa de uma amiguinha que comemora, amanhã, o aniversário de uma boneca. No meio dessa confusão, foi isso que saiu.
Beijos para todos.

CHEIRO NO AR, MACONHA NO BAR

Sylvia Regina Marin

Francisca era uma mulher altiva. Tinha estilo, como comentavam os vizinhos. Não se sabe como veio parar naquela espelunca tão no fim do mundo. As más línguas diziam que ela foi rica quando jovem. Era poderosa, dona de mansão com piscina, quadra de tênis e sabe-se lá o que mais. Parece que o marido era viciado em drogas e “torrou” a fortuna da família para sustentar o vício. História triste.
O fato é que ela apareceu naquele cantão longínquo, em uma manhã de inverno, e se instalou em um dos cômodos da casa comunitária que abrigava todo tipo de gente. O porte de Francisca chamava atenção. Ela tentava manter a dignidade apesar da sujeira e das precárias condições que a cercavam. E o povo, é claro, fazia mesuras quando ela passava. Era conhecida no pedaço como Condessa Chica.
Do outro lado da rua, bem em frente à janela do quarto de Francisca, ficava o bar. Por mais pobre que seja o bairro, há sempre um bar que reúne quem está alegre a quem está triste. A bebida serve para ambos os casos. Era nesse local que os adolescentes se juntavam para a roda de fumo. Toda noite.
Francisca passava a madrugada tossindo. Não suportava aquele cheiro, que a deixava enjoada e com a respiração ofegante – alergia antiga, mal curada. Um dia ela decidiu ir à polícia para dar queixa dos rapazes. Os policiais riram dela:
- Ora, madame, a senhora pensa que está aonde? Tem sorte que os meninos “pegam leve”. Podia ser pior, sabia?
Ela sabia. Mas não desistiu. Decidiu ir ao bar conversar com os garotos. Até que eles eram simpáticos, mais do que poderia supor. Não eram os marginais arrogantes que ela imaginava. E não é que Francisca começou a gostar daquela turma? Eles não riam dela, de sua maneira de ser. Tratavam-na de igual para igual, com respeito. Aos poucos, ela se afeiçoou a eles. Não demorou muito e um dia Manduca, o líder do grupo, lhe fez a proposta:
- Tia, experimenta unzinho.
Francisca não resistiu ao jeito sedutor de Manduca. Experimentou. Tossiu um pouco, mas foi em frente. E, desse jeito, ela passou a fazer parte da turma da fumaça. A alergia? Vejam vocês, nem lembra mais que um dia existiu. Encontrou seu lugar no pedaço de mundo que a ela estava destinado.
Hoje, quando sente o cheiro característico no ar, já sabe. Está na hora.

Agosto de 2008

3 comentários:

Beth/Lilás disse...

Sylvinhaaaaaaaa!
Que bom, que satisfação tê-la de volta!
Saiba que fiz aquilo que prometi, com relógio e hora marcados e com muita fé. E o Wilmar também.
Agora é só esperar.

Que delícia este conto!
Voltou em grande estilo e de um jeito
como eu gosto, alegre e irreverente.
muito bom!
grande beijo prá vocês todos aí.

Unknown disse...

Legal!!!!

Bem-vinda de novo! Ou, como diriam os catalaes, benvinguda!!!

E boa reuniao?

Festa de aniversário da boneca?! Tudo é motivo para uma festinha, né? que delícia!

Beijos

Sylvia Regina Marin disse...

Beth amada e filhota adorada,Que bom vocês terem me visitado.Obrigada, Beth, pelo seu carinho. E você, Biti, "benvinguda" também ao meu blog.Em tempo: a festinha de aniversário da Amanda (boneca da Beatriz Oliveira) foi de arromba.Ah que idade maravilhosa essa, em que tudo é festa...Beijos.