quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ando afastada de você, meu blog querido. Trabalhos, atividades, idéias loucas - porém frutíferas - cuidados com o marido debilitado. Minha amiga Regina Cascão veio aqui te visitar. Fiquei sabendo que ela não gosta do nome "Lúcia". Só a mãe a chamava de Regina Lúcia. E descobri que ela também escreve. Faz poesias lindas. Por falar nisso, para quem gosta de dicas literárias, mais um blog imperdível, o www.gavetaverde.blogspot.com. É da Catarina Cunha, cronista "da pesada". Bom feriado!

quinta-feira, 15 de maio de 2008


Esta imagem aí em cima não é propriamente nova. Foi feita em setembro do ano passado, quando a Ana Beatriz estava aqui no Brasil. Coloquei para mostrar à minha amiga Regina Lúcia, ex-colega do Instituto de Educação que, espero, venha visitar este blog. Regina, a de amarelo sou eu, tá? Meu marido, Marco Antônio, minha filha Ana Beatriz, que mora em Barcelona, e a caçula Maria Cecília. Falta o Paulo Eduardo, o filho mais velho. Outra hora eu te mostro.
Meu texto de hoje:
CIRANDA

Sylvia Regina Marin

Pela janela do apartamento de meus pais, observo as crianças lá embaixo, na pracinha, a brincar e correr. As menores ficam perto das avós ou das babás (sim – as mães modernas não têm tempo para essas coisas). As mais velhas sobem no escorrega, andam na gangorra, vão para o balanço, tudo em velocidade digna de um rali. Quanta energia, santo Deus!
Venho somente uma vez por ano a São Paulo, para rever os parentes, e é nessas ocasiões que dedico umas horinhas para observar o movimento dessa praça. A vida aqui é bem diferente da pequena cidade onde moro, no sul da Itália. Mas as crianças... – coisa fantástica! – têm as mesmas reações, brincam da mesma forma, testam a autoridade dos adultos do mesmo jeito. Um grupo de meninas se junta agora e faz uma roda. Elas devem ter entre cinco e seis anos – que fofas! – e começam a cantar:
Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar...
Fico admirada de ver como Alice cresceu. Rafaela engordou muito. Será que a mãe não percebe que ela pode ficar obesa quando for adulta? Já Luísa está bem magrinha. Talvez tenha estado doente, quem sabe? Aquela lourinha eu não conheço – deve ter-se mudado este ano para o condomínio. Olha como a Nina está bonita... Já não tem mais aquele rostinho de bebê. E Maria Clara, hein? Continua a se vestir como um menino (sua mãe diz que ela adora imitar o pai em tudo). Sinto falta de Bela, a mais engraçada de todas. É geralmente a primeira a quem procuro com os olhos.
- Mãe, a Belinha ainda mora aqui no prédio? Não a vi desde que cheguei.
Mamãe hesita. Seu olhar fica triste e, por um momento, me parece que ela vai desfalecer. Corro, aflita, sem entender o que está acontecendo. Talvez a menina tenha contraído alguma doença grave ou... Não, tento tirar pensamentos mórbidos da cabeça. Mas a agonia dentro do peito continua.
É Jurema, a empregada, quem me dá a notícia que minha mãe não consegue articular.
- Mas a senhora não soube da tragédia? A menina foi jogada pela janela pelo próprio pai e se estatelou lá embaixo. É a encarnação do demônio aquele homem. Tinha sangue em tudo que era lugar. A madrasta...
- Chega, chega, Jurema, pelo amor de Deus! Não quero ouvir mais nada!
Agora sou eu que vejo tudo girar. Sento no sofá e seguro as mãos de mamãe. Choramos as duas por uns instantes. Perco a consciência do meu próprio corpo e me recuso a aceitar o que acabei de ouvir. Tudo que me vem à mente são os profundos olhos castanhos, a pele corada, o riso contagiante, os cabelos ao vento de uma menina de cinco anos cujo nome nem ao menos sei. O apelido “Bela” seria de Anabela, Florisbela? Talvez fosse Isabela... Mas isso já não importa mais.
A ciranda na praça continua. A vida segue em frente. Teremos novos motivos para rir, chorar, beber, dançar, lamentar. Vamos cair e nos erguer de novo.
Será que conseguiremos esquecer que um dia Bela existiu, e que lhe foi tirado, de forma trágica, o bem mais precioso que ela possuía? Não sei. Só o tempo dirá.

sábado, 10 de maio de 2008

Pronto. Já estou outra mulher. Fiz bastante meditação ontem e hoje. Deu certo. Tive uns insights fantásticos. Nada como a gente exercitar a introspecção e a intuição. Ontem à noite desopilei o fígado, vendo o programa do Luís Fernando Guimarães, Dicas de um Sedutor. Nunca fui muito fã do L. F. Guimarães, mas devo confessar que ele está hilário nesse programa. A Ireve Ravache também deu um show, como sempre. Deitei à meia-noite e só acordei hoje às 10 e meia da manhã. Não foi ótimo? Revigorante! Hoje meu filho Paulo Eduardo veio, com a Lili e o Lucas, tomar um lanche comigo. Batemos bastante papo, matamos a saudade e ainda ganhei umas coisinhas lindas que minha nora fez para mim. Ela é muito fofa - super habilidosa.

Meu texto de hoje se chama "Metáforas". Feliz Dia das Mães para todos!

METÁFORAS

Sylvia Regina Marin

- Minha sobrinha é uma pérola! – costumava dizer tia Julieta quando me apresentava a seus amigos.
Desde bem pequena, sempre que ouvia essa frase, meu peito inchava. Não sabia o que ela queria dizer exatamente, mas me seduzia o som proparoxítono e rebuscado da palavra “pérola”. O brilho nos olhos de titia e seu sorriso carinhoso confirmavam minha suspeita de que ela me considerava uma menina especial. As pessoas me olhavam com admiração e, não raro, faziam comentários do tipo:
- Que amor de criança!
- Como ela é delicada!
- Comporta-se tão bem para a idade!
- Você tem razão, Julieta, ela é uma jóia rara!
O tempo foi passando. (Crianças crescem rápido...) Logo aprendi o significado da palavra que era repetida como um mantra toda vez que uma oportunidade propícia aparecia. E não é que me apaixonei por pérolas? Já adolescente, tinha mania de recortar, das revistas de mamãe, as fotografias de mulheres elegantes que ostentavam lindos colares de pérolas. Grace Kelly e Jacqueline Kennedy foram meus modelos de elegância.
Naquela época, eu não sabia a força que as palavras têm. Hoje, no entanto, quando relembro a fase terrível de minha adolescência, o que me vem à cabeça é exatamente a imagem da pérola enclausurada dentro de uma ostra. Pobre tia Julieta! Jamais a acusaria de ter desejado isso. Aconteceu. Mas a correlação é inevitável. Sorrio quando penso na quantidade de lágrimas que uma menina-moça é capaz de derramar e no desperdício de sofrimento que a faz tão infeliz, nesse período da vida. Comigo não foi diferente. Meus hormônios faziam uma revolução interna que a cabeça não sabia entender. E, ao invés me abrir para o mundo, cada vez mais me fechava em uma concha de introspecção e timidez. Foram anos terríveis, mas já estão distantes.
No tempo certo, amadureci, me casei, tive filhos... Tornei-me, vamos dizer assim, uma pérola cultivada. Não se espantem - tia Julieta continuava a me ver da mesma maneira. Seu olhar amoroso nunca se modificou. Nem mesmo quando, em determinada fase de minha existência, em uma atitude de pura rebeldia, resolvi abandonar a família para morar com os índios, no Alto Xingu. Durante um ano experimentei a liberdade de não ter compromissos burocráticos, de conviver com gente simples, de me alimentar de forma natural. Apesar da falta de conforto, os primeiros meses transcorreram suavemente, como se meu espírito estivesse em conexão total com a natureza. Aos poucos, porém, comecei a sentir falta dos livros, dos programas culturais que sempre amei, cinema, teatro... Tentei formar um grupo de atores na taba, mas os índios não me levavam a sério. Aulas de Português então... nem pensar. E o que eu faria, no meio da selva, com os conhecimentos de inglês e francês que adquirira na escola? Desisti.
Quando voltei, recebi críticas de toda a família, com exceção de tia Julieta, que manteve a coerência com que sempre me tratara. Ao abraçá-la, emocionada, ela sussurrou:
- Querida, não me leve a mal – tenho o maior respeito pelo povo indígena – mas o que você tentou fazer foi dar “pérolas aos porcos”...
Ri gostosamente.
- Ah, minha tia... Você e suas metáforas!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ando um pouco desanimada. Sei que, daqui a pouco vou melhorar, porque sou mestre na arte de me erguer, de nariz em pé, dos tombos que a vida me apronta. Até lá, mentalizarei bastante luz - a luz do amor, da alegria de viver, da saúde, da energia, da confiança, do equilíbrio. Vocês vão ver: já, já me aprumo.

O texto de hoje foi uma proposta de trabalho feita pelo professor João Pedro Roriz na primeira aula da Oficina Literária do Castelinho, no ano passado: um texto sem verbos. Foi escrito no metrô, a caminho do Flamengo. Deu nisso:

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Sylvia Regina Marin

Lembranças da infância: pássaros no céu, rio cheio de peixes, um bosque com árvores copadas, uma bola na frente e cem crianças atrás.
O casarão da vovó no alto da colina. Flores mil, uma horta no capricho e o pomar! Ah! o pomar! Quantos aromas inebriantes: de pêssego, manga, maçã...
Leite fresquinho, queijo da fazenda, legumes sem agrotóxicos, frango sem hormônio... E o bolo de fubá de dona Benta? Que delícia!
Sol, muito sol, passeios a cavalo, a música de Chico Viola, as serestas das noites de luar.
Saudades...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O texto que vou postar hoje foi escrito há bastante tempo. Os personagens, Rodrigo e Leila, apesar de serem filho e mãe no texto, não têm nada a ver com minha amiga Leila e com seu filho Rodrigo, cujos perfis são bem diferentes.

MERGULHO

O azul límpido da água sempre o fascinou.
Desde pequeno, Rodrigo ficava horas a contemplar as braçadas elegantes que sua mãe dava naquela piscina. Acompanhava o ritmo batendo palmas, de início. Aos poucos, aprendeu a contar o número de voltas e, mais tarde, já usando um cronômetro, marcava o tempo, incentivando-a a melhorar seu desempenho. Não que Leila tivesse pretensões de competir – ela simplesmente se divertia. Ah, sim! Aproveitava também para modelar o corpo, motivo de inveja das amigas do Country.
Foi Leila quem lhe deu as primeiras lições: mergulhar de olhos abertos, bater perninhas na prancha, boiar no flutuador... Sua casa era uma festa: vivia cheia de amigos. Rodrigo, no entanto, se fechava em um mundo particular, que só tinha sentido quando seu corpo se envolvia pela imensidão daquelas águas. A mãe achava que o filho era uma criança extravagante:
- Com essa mania de não sair da piscina, penso que Rodrigo gostaria de ainda estar dentro do útero! dizia ela às gargalhadas.
Ele ficava triste quando ela brincava assim, mas, no fundo, talvez estivesse certa. Dentro d´água ele era feliz: não havia som que o incomodasse, professores a lhe gritar que prestasse atenção, regras e etiquetas a cumprir. Rodrigo era dono do seu tempo, senhor absoluto de seus atos e, de quebra, entrava em êxtase ao ter a pele acariciada pelo toque mágico das pequenas ondulações que o próprio corpo formava.
Às vezes, mãe e filho nadavam juntos, mas esse prazer foi ficando cada vez mais raro. Ele não se lembra quando foi que ela parou definitivamente. Só recorda das dores, dos médicos à cabeceira dela, das injeções de morfina que a deixavam semi-consciente. Tem uma vaga lembrança de que foi nesse período que os treinos na piscina se intensificaram. A seu pedido, o pai contratou um antigo atleta profissional, que o acompanhava todas as manhãs em sua frenética busca pela perfeição. O objetivo de se superar era perseguido de maneira doentia. O treinador o alertava para que não cometesse excessos, mas ele se recusava a escutar.
Na casa, ninguém lhe dava atenção. Nem perceberam quando parou de ir à escola. Corações e mentes se voltavam para Leila, cujas dores destroçavam todos ao seu redor. Em um tempo que ele não sabe definir se longo ou curto, aconteceu o que as pessoas esperavam: antes, com medo; no final, com resignação. Ela se foi.
Exauridos pela batalha perdida, embotados pelo sofrimento, parentes e empregados da casa se esqueceram do rapaz tímido, que não incomodava ninguém, que era como se não existisse. Rodrigo já não nadava mais, se recusava a comer, não tomava banho. Definhava aos poucos. Apagou.
Desse mergulho profundo para dentro de sua alma, tem recordações dos sonhos em que se debatia na piscina para salvar a mãe, dos homens de branco que lhe davam pílulas, do pai, que aparecia aos sábados para visitá-lo.
Hoje está de volta à sua velha casa. Tudo está igual, mas, ao mesmo tempo, tão diferente ... Através da janela do quarto, absorto, contempla a piscina.
O azul límpido da água sempre o fascinou.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Para quem gosta de prestigiar novos autores, que ainda não são famosos, mas que têm tudo para ser, indico aqui o blog da Rachel Souza (http://rachel-souza.blogspot.com) e o site da Rosa Pena (www.rosapena.com), ambos deliciosos. Delicioso é também o blog da Beth Lucas, amiga de longos anos e madrinha da Maria Cecília, que faz uma crônica diária, com fotos, poesia e uma observação da vida, que é uma gostosura só (http://supremamaegaia.blogspot.com).

E como tirei hoje o dia para fazer homenagens, aqui vai um poema de Manoel Herculano, novo membro de nossa Oficina Literária Independente e Democrática:

SUTILMENTE
Manoel Herculano

Quando deixei escapar aquele olhar suplicante
Quando prolonguei ao máximo aquele aperto de mão
Quando quase exagerei naquele abraço
Quando me atrapalhei ao beijar seu rosto e por pouco não beijei sua boca
Quando gaguejei ao pronunciar uma única palavra, te cumprimentando
Quando fiquei mudo naquele encontro casual
Quando calei os suspiros gritantes da minha alma
Quando o meu sorriso amarelou e escondeu-se envergonhado
Quando não foi possível contar o sonho que tive com você
Quando esqueci de fechar a boca ao te encontrar
Quanto insisti para que ficasse, sem um porquê
Quando consegui saborear o seu beijo que nunca provei
Quando me ausentei por alguns segundos ao ouvir sua voz
Quando meus braços obedientes me desobedeciam e entrelaçavam seu corpo
Quando minhas pernas trêmulas teimavam em correr em sua direção
Quando eu tropeçava em meus próprios passos e cambaleava feito "o bêbabo e o equilibrista"
Quando as idéias embaralhavam e as palavras formavam outra frase
Quando meus olhos, cegos, não enxergavam outra flor nem outro ramo
Quando tudo isso acontecia, admito agora, e não reclamo
Era todo o meu ser que sutilmente berrava: Eu te amo!