quinta-feira, 15 de maio de 2008


Esta imagem aí em cima não é propriamente nova. Foi feita em setembro do ano passado, quando a Ana Beatriz estava aqui no Brasil. Coloquei para mostrar à minha amiga Regina Lúcia, ex-colega do Instituto de Educação que, espero, venha visitar este blog. Regina, a de amarelo sou eu, tá? Meu marido, Marco Antônio, minha filha Ana Beatriz, que mora em Barcelona, e a caçula Maria Cecília. Falta o Paulo Eduardo, o filho mais velho. Outra hora eu te mostro.
Meu texto de hoje:
CIRANDA

Sylvia Regina Marin

Pela janela do apartamento de meus pais, observo as crianças lá embaixo, na pracinha, a brincar e correr. As menores ficam perto das avós ou das babás (sim – as mães modernas não têm tempo para essas coisas). As mais velhas sobem no escorrega, andam na gangorra, vão para o balanço, tudo em velocidade digna de um rali. Quanta energia, santo Deus!
Venho somente uma vez por ano a São Paulo, para rever os parentes, e é nessas ocasiões que dedico umas horinhas para observar o movimento dessa praça. A vida aqui é bem diferente da pequena cidade onde moro, no sul da Itália. Mas as crianças... – coisa fantástica! – têm as mesmas reações, brincam da mesma forma, testam a autoridade dos adultos do mesmo jeito. Um grupo de meninas se junta agora e faz uma roda. Elas devem ter entre cinco e seis anos – que fofas! – e começam a cantar:
Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar...
Fico admirada de ver como Alice cresceu. Rafaela engordou muito. Será que a mãe não percebe que ela pode ficar obesa quando for adulta? Já Luísa está bem magrinha. Talvez tenha estado doente, quem sabe? Aquela lourinha eu não conheço – deve ter-se mudado este ano para o condomínio. Olha como a Nina está bonita... Já não tem mais aquele rostinho de bebê. E Maria Clara, hein? Continua a se vestir como um menino (sua mãe diz que ela adora imitar o pai em tudo). Sinto falta de Bela, a mais engraçada de todas. É geralmente a primeira a quem procuro com os olhos.
- Mãe, a Belinha ainda mora aqui no prédio? Não a vi desde que cheguei.
Mamãe hesita. Seu olhar fica triste e, por um momento, me parece que ela vai desfalecer. Corro, aflita, sem entender o que está acontecendo. Talvez a menina tenha contraído alguma doença grave ou... Não, tento tirar pensamentos mórbidos da cabeça. Mas a agonia dentro do peito continua.
É Jurema, a empregada, quem me dá a notícia que minha mãe não consegue articular.
- Mas a senhora não soube da tragédia? A menina foi jogada pela janela pelo próprio pai e se estatelou lá embaixo. É a encarnação do demônio aquele homem. Tinha sangue em tudo que era lugar. A madrasta...
- Chega, chega, Jurema, pelo amor de Deus! Não quero ouvir mais nada!
Agora sou eu que vejo tudo girar. Sento no sofá e seguro as mãos de mamãe. Choramos as duas por uns instantes. Perco a consciência do meu próprio corpo e me recuso a aceitar o que acabei de ouvir. Tudo que me vem à mente são os profundos olhos castanhos, a pele corada, o riso contagiante, os cabelos ao vento de uma menina de cinco anos cujo nome nem ao menos sei. O apelido “Bela” seria de Anabela, Florisbela? Talvez fosse Isabela... Mas isso já não importa mais.
A ciranda na praça continua. A vida segue em frente. Teremos novos motivos para rir, chorar, beber, dançar, lamentar. Vamos cair e nos erguer de novo.
Será que conseguiremos esquecer que um dia Bela existiu, e que lhe foi tirado, de forma trágica, o bem mais precioso que ela possuía? Não sei. Só o tempo dirá.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito do texto... Pena que é tao triste. E que é uma realidade.... beijos...e boa semana!!!!

Beth/Lilás disse...

Mas que família bonita, gente!
Sobre o texto, snif snif....mas muito bom, como sempre.
bjks

ana diniz disse...

Sylvia querida...como vai?
Que foto mais bonita vc e sua familia!!!!!!!!!o astral é muito bom!!
E aí, nenhuma novidade sobre a publicação de seu livro?
Não tardará com certeza!!!!
Continue escrevendo seus textos, gosto muito...
bjs