terça-feira, 1 de abril de 2008

Estou tendo enormes atritos com uma urucubaca que baixou por aqui. Não consigo mandar mensagens para o pessoal do meu grupo no yahoo. Esse é o grupo denominado de Oficina Literária Independente e Democrática. Na penúltima reunião que fizemos, falamos tanto sobre terapia e terapias que este ficou sendo o tema sobre o qual escreveríamos para apresentar na reunião seguinte. Funciona assim: cada um lê o que escreveu e depois coloca o texto no yahoo para que os que não foram possam ler. Desde a última quinta-feira tento enviar meu texto e ele se recusa a ir. Acho que ele tem personalidade própria. Mas como sou teimosa, vou postá-lo aqui e dar um jeito de avisar ao pessoal para vir me visitar.
Aí vai:

TERAPIA?

Sylvia Regina Marin

Quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

- Meu último dia de férias – pensa Lê – enquanto remexe nas gavetas da mesinha de cabeceira.
Ah! Enfim acha o que procura. Um pedaço de papel onde escreveu, durante a festa do Reveillon, as promessas de fim de ano – tudo que ela estava adiando há algum tempo e se comprometia a realizar no ano seguinte.
Pega uma caneta e se recosta em sua poltrona favorita.
- Ainda bem que o João Pedro foi ao supermercado fazer as compras de mês. Esse meu maridinho é um anjo. As crianças só voltam à noite da colônia de férias. Então, deixa eu aproveitar para checar minha lista. Vamos ver:
- Voltar para a academia de ginástica - Ha!ha! Voltei há duas semanas. Riscado.
- Visitar minha sogra duas vezes por mês - Hum! Só fui uma vez em janeiro; fevereiro é um mês curto... em março, eu começo de verdade.
- Marcar ginecologista - Feito. Tudo bem lá por baixo. Riscado.
- Fazer um peeling de cristal – Só no inverno, disse a dermatologista. Está bem.
- Fazer terapia.
Lê esbarra nesse item. Ela acha que não precisa dessas coisas. É uma pessoa feliz, sempre com o astral nas alturas, tem um marido maravilhoso (em todos os quesitos), trabalha no que gosta, ganha bem, os filhos são saudáveis e inteligentes, sua casa é confortável... Sim, tem seus problemas, como todo mundo, mas trata de resolvê-los rapidamente para ficar livre. Nada que não termine com uma sonora gargalhada, e pronto.
Sua irmã mais velha, porém, sempre que pode, insiste para que ela procure um terapeuta:
- A terapia funciona como um instrumento para as pessoas se conhecerem melhor. Isto é muito importante na vida. Veja o meu caso. Há vinte anos me consulto com o Dr. Mascarenhas e, a cada dia, descubro coisas novas a meu respeito, coisas que estão escondidas no subconsciente.
Lê não quer seguir os passos da irmã e ficar tantos anos presa a uma pessoa. Mas não nega que tem uma certa curiosidade sobre o assunto. Já andou pesquisando e decidiu marcar uma hora com a terapeuta holística de sua amiga Lídia.

Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Lê toca a campainha do consultório da Dra. Mônica. Surpreende-se ao encontrar uma mulher com roupas indianas, cabelos longos e um sorriso encantador, que lhe pede para tirar os sapatos. Sente-se confortável naquele ambiente. A música relaxante e o barulhinho da água que jorra de uma fonte fazem sua mente vibrar em uma sintonia de amor.
Dra. Mônica pergunta seu nome completo e ela responde:
- Legiomar Sylvianna Becademy da Silva, mas pode me chamar de Lê.
- Ora, um pouco estranho seu nome, não é? Você gosta dele?
- Bem, não posso dizer que adoro, mas estou acostumada.
- Alguma vez zombaram de você por causa disso? Na escola ou em família?
- É, já aconteceu...
- Você teve ódio de sua mãe por ter lhe dado esse nome?
- Não, isso nunca me passou pela cabeça, mas... pensando bem...
- E seu pai? Será que foi idéia dele? Seus pais brigavam muito?
- Eles se separaram logo depois que eu nasci.
- E você acha que seu nascimento teve algo a ver com essa separação?
- Não sei...
- Relaxe, me fale sobre as coisas que você se lembra da infância, sem se preocupar com a ordem dos fatos.

Segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
- Como vai, Lê? Gostei de ver. Você é pontual.
- Tudo bem, Dra. Mônica? Tive um sonho estranho esta noite.
- Conte.
- Sonhei que estava na praia e de repente tirava a roupa toda e entrava nua no mar. As ondas eram muito altas e eu não conseguia voltar para a beira. Nadava desesperadamente até que apareceu um tubarão. Em vez de me atacar, ele me carregou nas costas até uma ilha deserta e me deixou lá.
- Hum... Águas revoltas... Precisamos cuidar urgente do seu emocional. Você se sentia bem nessa ilha?
- Claro, depois de quase morrer afogada e do susto com o tubarão, a ilha era um paraíso.
- É bem nítido que existe um problema de relacionamento com seu marido. Falta alguma coisa no casamento? Quais são os defeitos dele que irritam você? Fale tudo que vier à cabeça.


Segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
- Dra. Mônica, estou muito chateada. Briguei com a Rebeca, minha irmã. Ela acha que sua terapia anda muito rápido e está confundindo a minha cabeça.
- Fale-me sobre sua irmã.
- Ela é psicanalista kleiniana. Sempre foi a primeira da turma. Muito inteligente e autoritária. Adora mandar nos outros.
- Minha querida, vejo que temos um importante material para trabalhar. Você tem inveja de sua irmã, sente-se inferior a ela. Por isso, ela manda e você obedece.
- Não, doutora, eu disse que ela gosta de mandar, mas não disse que eu obedeço.
- Inconscientemente, obedece sim. Veja bem...

Segunda-feira, 3 de março de 2008
- Dra. Mônica, não vim me consultar hoje. Vim me despedir.
- O que houve? Estávamos indo tão bem...
- Pedi demissão do emprego, vendi meu carro, me despedi do João Pedro e das crianças e comprei passagem só de ida para o Nepal. A louca da minha irmã diz que eu pirei, veja só... Agradeço à senhora ter me mostrado quem eu sou realmente. Minha vida era uma farsa. Sei que estou deprimida, mas com o tempo isso vai passar. Adeus!
- Mas, Lê, ainda faltavam tantas coisas para você descobrir...

Março de 2008

Notas da Autora:
1) O nome “Legiomar Sylvianna Becademy da Silva” é uma homenagem aos participantes da Oficina Literária Independente e Democrática, que se reúne duas vezes por mês na casa da Myriam.
Vejam só: “Legiomar” se forma com as primeiras letras dos nomes Letícia, Giovanna e Márcia; “Sylvianna” se forma com as primeiras letras dos nomes Sylvia, Vilma e Anna (esse foi todo); “Becademy” se forma com as primeiras letras de Bete, Catarina, Dede (sempre presente, apesar da distância) e Myriam. O “da Silva” homenageia nosso querido Vlad.

2) O texto é obviamente uma brincadeira e não faz jus ao trabalho sério de inúmeros terapeutas, de todas as linhas, que nos ajudam bastante a desatar os nós com os quais nos enroscamos durante a vida.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sylvia...amei seu texto....o pior é que isso acontece mesmo, né?
E seguimos tentando nunca deixar que o 'AR' nos falte....e é com alegria e humor que sobrevivemos...
bjs
ana diniz

Anônimo disse...

Sylvia
os nomes já haviam chamado minha atenção, quitutes. Não precisa explicar,... até que adorei a explicação!
E quanto respeito aos terapeutas...!
Sacaneia e pronto. É mais engraçado. O texto está uma delicia, sempre as segundas...curioso, eu também era as segundas e agora, aqui no casaquistão não vi nenhum psicanalista e nem tem segunda, é só sabado!

Sylvia Regina Marin disse...

Querida Ana,
Que bom que você continua me visitando. Haja senso de humor mesmo para a gente sobreviver, não é?
Beijos.
Sylvia

Sylvia Regina Marin disse...

Querido "Anônimo",
Pelas coisas que você escreveu e pelo estilo, sinceramente, estou em dúvida entre três pessoas. "Casaquistão"? Será você, Wilma?
Você tem razão. "Sacanear e pronto" é mais engraçado.
Beijos.
Sylvia