quinta-feira, 13 de março de 2008

Já estou com um soninho... Mas resolvi dar uma passada por aqui antes de deitar. Tive um dia atípico. Dei um tempo para mim mesma, fiz um exercício de respiração fantástico que aprendi em um curso ministrado pela ONG "Arte de Viver" e relaxei. Conclusão: da hora do café até a hora do almoço, estive em alfa. Foi muito bom. Minhas idéias clarearam e pude colocar em um pedaço de papel todos os itens que pretendo discutir com minha terapeuta na próxima sessão. Será uma sessão definitiva. Vou colocar os pingos em vários iiiiis e vou pular fora. Foram dois anos bem interessantes, nos quais descobri muita coisa sobre mim mesma. Ela me ajudou muito, mas nosso tempo acabou. Resolvi agora fazer um trabalho de arteterapia para apurar algumas pendências do inconsciente. Falta pouco, mas eu chego lá.
Hoje trouxe duas coleguinhas da Bia para brincar aqui em casa depois da escola. As mães estavam um pouco aflitas, achando que eu não ia dar conta. Não sabem de nada! Não é a primeira vez que faço isso. Amo essa garotada inteligente, cheia de energia e me alimento dessa força. Brincamos para valer. Foi ótimo!

Para não perder o hábito, aqui vai mais um dos meus textos:


LUGARES QUE NÃO CONHEÇO, PESSOAS QUE NUNCA VI

Sylvia Regina Marin

Sim, meu amigo, amo a vida acima de tudo. Sei que duvidas da minha alardeada capacidade de me transmutar em diferentes seres. Sofres ao pensar que sou louca, que as experiências que te narro são fruto de uma alucinada imaginação. Não te conformas com esta inquietude que admiras mas, ao mesmo tempo, temes. Teu cuidado me emociona. Faz-me lembrar da menininha que um dia fui e que ainda trago dentro do peito. Sinto teu constante carinho, como se houvesse sempre uma mão a acariciar minha cabeça, a me incentivar:
- Vá, querida, corra, descubra novos mundos, não tenha medo, você é maior do que todas as coisas!
A criança ainda vive no meu coração. Os sofrimentos e as dores que me levaram à maturidade não tiveram força suficiente para sufocar a alegria de viver, a fome do contínuo aprendizado, a sede de um dia achar a fonte da verdadeira felicidade.
Tu bem sabes quantos lugares conheci, quantos homens amei, quantos amigos tenho feito durante essa busca incessante pela paz da minha alma. Claro, nenhum como tu, meu querido, sempre atento, por perto, pronto para me amparar nos desvios do caminho.
Não te atemorizes agora. Acompanhaste todas as aventuras nas quais me joguei de cabeça. És capaz de te lembrar o número de vezes em que rimos e choramos juntos? Ou mesmo separados, às vezes a léguas de distância, mas de alguma forma conectados pela amizade profunda de que tanto nos orgulhamos. Vivi intensamente aqueles momentos e tu sabes disso. Todos os prazeres materiais foram por mim experimentados. Em muitas ocasiões, veladamente, tu davas sinais de desaprovação. Mas eu vivia sempre ocupada demais para discutir o assunto contigo. Na verdade, ignorava teus sinais.
Porque te inquietas tanto nesse momento? Não vês que a garota inconseqüente deu lugar a uma mulher equilibrada e sensata? O que te assusta? Acho que tu querias que eu continuasse única, uma cidadã do mundo. É isso? Não, meu querido, isto eu já fui, lamento por ti.
Descobri, de alguma forma, que tudo que eu procurava não estava lá fora, na imensidão do planeta, mas dentro de mim mesma. Percebi que sou múltipla. E que posso me transformar em outro ser de acordo com a situação à minha volta. Torno-me invisível quando quero. Tu duvidas, mas é sério. Consigo viajar para outros lugares sem sair da minha poltrona favorita, na varanda da casa que finalmente escolhi como pouso para o outono de minha vida.
Estou feliz, e isso devia te bastar. Minha alma se aquietou. Talvez esta singularidade me torne menos interessante do que outrora, mas não me importo. Daqui mesmo, tendo o Cristo Redentor como pano de fundo para a imaginação, vou a lugares que não conheço, encontro pessoas que nunca vi, e me delicio em constatar que, sim, a felicidade é possível.


Dezembro de 2007

3 comentários:

Beth/Lilás disse...

Claro que vc daria conta do recado com as crianças!
Nunca me esqueço de você falando ao telefone com seus filhotes, quando eram pequenos, direcionando-os para seus afazeres do dia.
Quem foi uma ótima mãe, com certeza será uma super-avó.

Continue com seus lindos textos, pois estou viajando neles.
Bjks

Anônimo disse...

Silvia, seu texto faz-nos viajar, não é bem isso. Ele nos faz ser cumplice de algo que consciente ou inconsciente, sabemos muito bem do que tu falas. Entendo o que transmite em cada entre linhas.
Parabéns, continue escrevendo. Faz bem a nossa alma.
Beijos no coração
Cacilda

Sylvia Regina Marin disse...

Lindas Beth e Cacilda,
Gostei de saber que vocês estão, de alguma forma, viajando nos textos.
Obrigada pela visita.
Este carinho me alimenta.
Beijos.
Sylvia