quarta-feira, 5 de março de 2008

SINAIS DE FUMAÇA

Há sinais de fumaça no horizonte. Vejo-os mas não sei o seu significado. Sinto que eles querem me dizer alguma coisa. O que será? Recordo os antigos ensinamentos passados através de diversas gerações e que me remetem a meus ancestrais índios. Para onde foi que, no meio do meu louco caminhar pela vida, deixei que isso me escapasse? Onde estão a pureza, o amor, a inocência, a fraternidade? Que falta de tempo é essa que não me permite parar para apreciar a beleza do amanhecer, ouvir o cantar dos pássaros nas árvores, me encantar com as flores que desabrocham na primavera ?
Há sinais de fumaça no horizonte. A criança de ontem, curiosa, amorosa, que devorava todos os livros que lhe caíam nas mãos pela ânsia de conhecer o mundo, onde está? Ela foi perdendo seus avós, seus pais, os familiares mais velhos, e ela própria se tornou mãe e avó. Será que cumpriu bem a meta a que se propôs seguir? Será que está trilhando o caminho natural evolutivo do ser humano iluminado ou está precisando da ajuda de seus sábios ancestrais? Onde se perdeu aquela magia? Onde encontrar novamente a centelha da comunicação, a simplicidade dos abraços perdidos?
Há sinais de fumaça no horizonte. Sim, eu sei que eles estão me chamando. Tento entrar em sintonia com os elementos da natureza. Tenho certeza de que eles hão de me orientar. É com respeito que abraço a velha árvore cujos galhos há anos enfeitam, com suas lindas flores vermelhas, a janela do meu quarto. Pego um punhado de terra e agradeço ao Ser Superior a alegria de me permitir esse contato. Sinto o vento em meus cabelos e fecho os olhos, respirando fundo e com prazer. Ah! Sensação inebriante e avassaladora! Sento-me, encostada à árvore, e deixo que meus sentidos me levem a algum lugar.
Há sinais de fumaça no horizonte. Não os vejo agora porque estou arrebatada pela experiência única de perceber meu corpo se diluindo em sua matéria e me fazendo sentir parte integrante da terra. Lá de longe percebo um movimento familiar, sinto um cheiro tão gostoso e não consigo mais ter dúvidas, nem queixas, nem dores. Flutuo como se estivesse em um tapete mágico, que me leva suavemente, acariciada pela brisa fresquinha, até o centro de uma enorme floresta. Reconheço o lugar, as pessoas que se aproximam, os animais selvagens que vêm lamber meus pés e não me causam medo.
Há sinais de fumaça no horizonte. São eles, meus antepassados, que dançam em volta de uma fogueira. É alguma festa da tribo? Não, eles estão simplesmente brindando à vida, agradecendo aos deuses a força, que os mantém saudáveis, a conexão com a natureza, que mantém seus espíritos elevados, e o amor incondicional, que os une para sempre. Eu me integro a esse grupo e me encho de alegria, dançando e cantando, abraçando meus irmãos, colocando mais lenha na fogueira para nos aquecer. Meu Deus! Como é fácil ser feliz! Quero continuar ali para sempre, mas meu devaneio termina.
Volto ao meu lugar sentada embaixo da árvore. E penso que a felicidade existe sim. Está dentro de mim, e que a mim está sendo dado o poder de transmiti-la. Vou amar mais, abraçar mais, beijar mais, rir mais e conquistar cada vez mais amigos. Essa é a minha missão. Olhem para o céu! Não há mais sinais de fumaça no horizonte ...


Dezembro de 2006

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